Hoje decidi ser eu mesma



A base de tudo o que não queremos e nos acontece está na não-aceitação dessas mesmas coisas. Temos um medo terrível de tudo o que pode acontecer de negativo ou de impeditivo de chegarmos onde queremos, especialmente quando esses entraves e obstáculos somos nós mesmos e as nossas incapacidades e, acreditamos nós, as nossas “falhas”. Decidimos revoltar-nos e massacrar-nos por não sermos como supostamente deveríamos ser, como se existisse um modelo de perfeição a seguir, e como se esse modelo imaginário fosse sequer atingível sem criar um permanente estado de frustração. 

Não entendemos que a busca pela perfeição, bem como os medos e frustração que essa busca traz, são realmente o que nos impede de alcançar o que tanto queremos e merecemos.

O problema é que aceitando-nos, tornamo-nos conscientes de nós mesmos e da nossa responsabilidade no rumo que a nossa vida leva. Percebemos que não somos um barco à deriva, mas sim os decisores da rota e do destino a que nos queremos propor.

Com a aceitação vem esse peso da responsabilidade e a carga de que nada se fez para evitar as situações negativas que temos pendentes nas nossas vidas, ou mesmo aquelas situações que teimam em repetidamente surgir nas nossas vidas. Mais grave ainda, vem a compreensão de que tudo fizemos para que elas surgissem e se perpetuassem. Elas vieram por nossa causa, e têm esperado que tomássemos consciência delas e aceitássemos a nossa responsabilidade e o nosso papel criador.

Aquilo que digo não é que criemos uma visão fantástica irreal e utópica de nós mesmos, em que fechamos os olhos aos factos para colocarmos um véu de perfeição e candura sobre nós mesmos para nos amarmos e para que os outros nos amem (pois não é isso que constantemente fazemos?). Aquilo a que me refiro é o amarmos o pior de nós.

Só através da compaixão, compreensão e amor, primeiramente por nós mesmos, conseguimos transformar-nos e ser capazes de entender e amar o outro.

E amar nunca é uma anulação – nem de nós mesmos, nem de partes de nós mesmos (ainda que sejam assustadoras e monstruosas aos nossos olhos), nem dos outros, nem do próprio amor. A anulação é sempre a não-aceitação de algo, e o amor é sempre a aceitação do todo. Não é a tolerância do que não é bom, do que magoa, do que prejudica – é a aceitação dessa realidade e o perseguir tudo o que ressoa com o que é verdadeiro e real nos nossos corações. É receber tudo o que nos acrescenta à alma sem nos deixarmos anular pelo que nos consome, desgasta, anula, sabendo que o amor-próprio, o respeito a si mesmo e mesmo a auto-preservação são tudo.

Com a aceitação de nós mesmos, tudo muda ao nosso redor. As pessoas, os acontecimentos, as oportunidades. Tudo se alinha e começa a fluir de outra maneira, muito mais desimpedida e livre. Pessoas somem das  nossas  vidas, outras somam-se ao que somos e fazem-nos mais do que já somos. Fazem-nos crescer. Projectos de vida podem cair por terra por já não servirem mais ao que somos, enquanto outros projectos surgem para nos dar novo rumo, nova energia. São sempre necessários ajustes para que sejamos colocados no lugar que devemos ocupar. E por mais desajustados que nos possamos sentir, todos nós temos esse lugar, esse papel a ser desempenhado que mais tarde ou mais cedo acaba por surgir quando estamos preparados e fortes o suficiente para o assumir com toda a responsabilidade e garra.

Por essa razão, hoje decidi ser eu mesma, com todas as minhas falhas, imperfeições, cicatrizes, inseguranças, fraquezas e vulnerabilidade. Não tem mal não ser perfeita, nem tem mal não dar 200% de mim mesma para o ser. Prefiro dar 5% para ser perfeita e 95% para ser imperfeita mas feliz, amando cada parte da minha imperfeição e aceitando a imperfeição dos que me rodeiam.

Muito Amor,

Diana Pereira

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