Empatia: a salvação ou um bicho papão?
Se há coisa que é importante para um bom terapeuta é a capacidade de escutar o paciente, conseguir compreender a sua história de vida e as suas experiências. Muitas vezes nunca passámos por nenhuma situação parecida à relatada, frequentemente não conseguimos sequer compreender as razões para o paciente sentir-se do modo que se sente (muita vezes não tem mesmo razões, mas isso não invalida o seu sofrimento nem diminui a realidade da dor que sente).
Para que o paciente se sinta realmente ouvido e compreendido, é importante que o terapeuta tenha a capacidade de se colocar no seu lugar e imaginar o que sentiria se estivesse nessa mesma situação, pois só quando realmente nos encontramos na situação a conseguimos perceber na sua totalidade. Obviamente que neste caso não o podemos fazer, por isso pomo-nos no lugar do outro.
Esta capacidade de nos ligarmos ao outro e sentirmos o que ele sente é a empatia.
Esta conexão ao outro tem os seus benefícios e malefícios, essencialmente para o terapeuta.
Por um lado, esta conexão permite que mais rapidamente compreendamos a parte emocional do paciente e até conseguir descobrir causas de certos distúrbios que podem estar escondidas debaixo do tapete, mas também conseguir que este veja a sua vida por outra perspectiva e possa tomar consciência dos seus erros (que podem ir do modo como se relaciona com os outros até a hábitos alimentares prejudiciais).
Esta empatia e a ligação criada entre ambos é a pedra basilar para o sucesso de toda a terapia.
Como já referi, a empatia não são só rosas. Se mal utilizada ou não controlada, a empatia pode ser bastante nefasta para o terapeuta. Este deixa-se envolver demasiado no caso do paciente e acaba por sentir tudo o que o paciente sente, como se fosse consigo mesmo. Isto causa desconforto, tristeza ou cansaço inexplicáveis e a longo prazo pode mesmo chegar a ter todos os sintomas de uma depressão tal é o desgaste energético, mental e emocional que esta excessiva ligação provoca. Ficamos sem conseguir distinguir muito bem quais as emoções que são nossas ou não, o que necessita de treino para saber controlar. Não é raro o paciente sair do consultório com melhoras visíveis e o terapeuta ficar a sentir todas as queixas físicas e emocionais do paciente. Por vezes só mesmo ao fim de um dia de consultas é que começamos a sentir todo esse peso em cima de nós. É como se o nosso corpo começasse lentamente a desligar-se. Ficamos apáticos, sem energia e sem ânimo para fazer seja o que for. Por vezes surge uma dor de cabeça que não passa com nada. É preciso ser-se cauteloso para não deixar que este peso sobre os nossos ombros nos pese cada vez mais e nos deite abaixo.
Como terapeutas queremos sempre fazer o melhor que podemos pelo nosso paciente, mas temos de aprender a distinguir o nosso espaço pessoal e a não deixar chegar a nós o que não é necessário, sem que sejamos frios e distantes. No meio está a virtude.
Muito amor,
Diana Pereira
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